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O cinza do lençol

Por André Luiz
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Em noites assim, recluso na solidão do meu quarto e parcialmente despido, com o vento tocando o meu peito ao entrar pela janela escancarada, percebo o único momento silencioso que há em meu cotidiano.

Sou consumido pela insônia. E isso não me espanta mais há um bom tempo. Antes que a ansiedade aumente a inquietude presente na minha mente e no meu peito, me levanto e apanho o maço de cigarros que está no meu criado mudo junto ao isqueiro e ao cinzeiro e vou em direção à janela. A vista ainda é bela, mesmo às três da manhã. Com o cigarro aceso, debruçado sob o parapeito, ouço o silêncio dos moradores dos edifícios ao meu redor e o barulho das folhas caindo conforme a intensidade do vento aumenta. A agonia do mundo habita meus pensamentos. Ao observar o céu e as estrelas, acendo outro cigarro e lembro dos momentos que vivi nos últimos meses; os porres homéricos e os diálogos que acabavam quase sempre em tensas discussões e todas as vezes que pensei no que poderia acontecer conosco no futuro. Eu sempre soube.

Fui tolo em pensar que seria capaz de viver com as incertezas de outra pessoa. As minhas são suficientes para me fazerem sofrer. Pensei que ao final tudo se resolveria e nós teríamos encontrado uma maneira de lidar com isso, mas não foi bem assim. A vida não funciona como nos livros.

Ainda me lembro de ouvir que tenho um desejo insaciável de ser lembrado por alguém e por algo que fiz. E, que isso é, possivelmente, um reflexo dos pequenos abandonos que sofri das pessoas que considerei importantes ao longo da vida. “Isso ainda vai te matar”, a psicóloga disse. Talvez por isso aquela tenha sido a minha última sessão. Não sou bom em expor o que sinto. Por mais que queira, nunca consigo. A única maneira que encontro de aliviar a minha melancolia e angústia é por meio das linhas que escrevo. Assim como fizeram com alguns escritores, elas me protegem da mais completa loucura.

Agora, já deitado em minha cama, um ínfimo sentimento de sono se apropria do meu corpo. Me ponho debaixo do lençol cinza e fecho os olhos. Faz frio lá fora e aqui dentro também.


André Luiz é estudante de relações públicas na Faculdade Cásper Líbero. Gosta de música, filmes e é aspirante a escritor. Desistiu da terapia depois de duas sessões por excesso de emoção.

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